Desafios da assistência farmacêutica de pacientes em saúde mental
Ser farmacêutico que está cada vez mais tomando protagonismo nos serviços de saúde e que acompanha seus pacientes traz desafios e mudanças de postura na profissão. Na assistência farmacêutica de pacientes em saúde mental, o profissional deve aliar seus conhecimentos técnicos em farmacologia com habilidades de comunicação para realizar seu atendimento de maneira completa.
Apesar da evolução da profissão, ainda sobram desafios para o farmacêutico enfrentar para trabalhar plenamente na área. Um deles está em si mesmo. “O farmacêutico ainda tem preconceito, estigmas, é inseguro e não sabe chegar até o paciente com transtorno mental, justamente porque ele possui a habilidade técnica, sabe as interações medicamentosas, principais reações adversas, mas ele ainda tem medo. Então, além das competências técnicas, nós necessitamos de habilidades de comunicação para saber lidar com esses pacientes”, explica a farmacêutica Sheilla Fernandes, professora do IBras/Abrafarma.
Entre os transtornos mentais mais comuns, estão a depressão, transtorno afetivo bipolar, esquizofrenia, deficiência intelectual, demência e transtornos de desenvolvimento. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estima-se que 300 milhões de pessoas ao redor do mundo sofram de depressão e 60 milhões apresentam transtorno afetivo bipolar.
Mesmo com ainda poucos profissionais atuando na área, Sheilla afirma que o trabalho com pacientes com transtornos mentais passa pelo não-preconceito, o qual fortalece o vínculo terapêutico. É nítida a necessidade de mais farmacêuticos que procurem desenvolver a comunicação, relações humanas e interpessoais com o paciente, para além do conhecimento tecnicista.
Apesar do farmacêutico ser um profissional que cuida do manejo e terapia medicamentosa, ele também pode orientar pacientes em relação a estratégias não-medicamentosas e não-farmacológicas, as quais também são eficientes no tratamento. Sheilla dá um exemplo: “Caso exista diagnóstico já estabelecido, como depressão, ansiedade ou transtorno afetivo bipolar, o farmacêutico deve garantir que essa terapia medicamentosa esteja na dose adequada e o estimular a aderir estratégias não-farmacológicas, como prática de atividades físicas, meditação, acupuntura, que o auxiliem também no tratamento. Uma estratégia não-farmacológica que também podemos promover é incentivá-lo a terapia psicológica”.
Desafios na saúde pública
A Reforma Psiquiátrica do Brasil, definida em 2001, ainda não facilita e não inclui o farmacêutico no acompanhamento do tratamento dos pacientes, os centralizando somente na distribuição dos medicamentos. O CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) prevê a obrigatoriedade da presencia de profissionais da saúde como médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais, mas não exige presença do farmacêutico. A presença dele é reivindicada somente se existir farmácias nesses centros. “Existem estudos de CAPS no Brasil realmente mostrando que temos um número de farmacêuticos insuficientes, e isso causa uma sobrecarga de trabalho burocrática muito grande e não há tempo de proporcionar cuidado efetivo ao paciente, muito porque nós não temos processo de trabalho definido”, informa a farmacêutica.
Um dos caminhos para mudar a situação é o engajamento político. “Quando houve a reforma psiquiátrica no Brasil, certamente a nossa classe estava muito enfraquecida, diferentemente do que estamos agora; vejo um crescimento muito grande em relação ao cuidado pelo CFF e perante a sociedade como um todo, mas nós temos começar a mostrar serviço, mostrar resultados através de pesquisas e ações em farmácias comunitárias na saúde mental e mostrar para a sociedade, políticos e gestores que nós podemos fazer a diferença no cuidado ao paciente”, completa.
Onde se capacitar
A professora Sheilla Fernandes ministra o módulo de Saúde Mental na Pós-Graduação em Farmácia Clínica e Serviços Farmacêuticos, oferecida pela Faculdade Cathedral em parceria com o IBras e Abrafarma. Possui graduação em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal do Espírito Santo (2004). Concluiu o mestrado em 2009 pela UNIFESP em Ciências (ênfase em Farmacologia) e trabalhou nesta mesma universidade como Farmacêutica-Bioquímica e na Universidade Federal Rural do Semi-árido, UFERSA, Mossoró.Tem experiência na área de Reprodução e Farmacologia, com ênfase em Farmacologia Bioquímica e Molecular, além da experiência atual em Farmácia Clínica- Cuidados Farmacêuticos em Saúde Mental. É doutoranda do Programa de Ciências Farmacêuticas- Área Farmácia Clínica- Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro da Associação Brasileira de Farmácia Clínica e da SBRAFH- Associação Brasileira de Farmácia Hospitalar. Sheilla mantém canal no youtube e redes sociais, chamado Farmacologia Com Amor, no qual aborda temas como o aumento da depressão e da taxa de suicídio entre os jovens, além dos desafios do início da terapia antidepressiva.
Farmacêuticos matriculados na Pós realizam a carga-horária de 420h, com 13 módulos presenciais em um final de semana por mês e 4 módulos online, produzidos exclusivamente na plataforma Abrafarma. Tudo isso com mais 100h de estágio, discussão de casos clínicos durante as aulas e um corpo docente exclusivo.
“A Pós é fenomenal porque se baseia muito com docentes que têm prática. Todos os docentes possuem não somente o arcabolso teórico, como também a prática, o contato com o paciente. Muitas pós no Brasil não possuem esse privilégio; com professores que têm só a teoria; aqui nós usamos metodologia ativas. Não vamos ficar somente jogando conteúdo em cima do aluno, mas sim trabalhar as situações. Trabalhamos a habilidade de comunicação com situações que possam acontecer dentro de um contexto na saúde mental e daí por diante”, reforça a professora.
As matrículas estão abertas em vários estados do Brasil. Conheça: https://www.assistenciafarmaceutica.far.br/cursos/pos-graduacao-presencial/
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